234


234

O seu perfil suavemente cinzelado e fino, fazendo lembrar a figura austera e altiva, a alada graça perfeita de um deus de crystal e bronze, — tranquillamente de pé, como n′um sólio real, na posição altanada de quem vae proseguir nos excelsos caminhos dos inauditos Designios...

Por conhecer-lhe os Ímpetos, as allucinações da audácia, as indomabilidades esthesiacas, os alvoroços idyosincraticos da Phantasia, eu imaginava encontral-o, vêl-o revoltamente arrebatado para os convulsos Infinitos da Arte por potentes, negros e rebellados corcéis de guerra.

Mas, a sua attitude serena, concentrada, isolada de tudo, trahia a meditação absorvente, fundamental, que o encerrava transcendentemente no Mysterio.

E eu, então, murmurei-lhe, quasi em segredo:


— Charles, meu bello Charles voluptuoso e melancólico, meu Charles nonchalatt, nevoento aquário de spleen, propheta musulmano do Tédio, ó Baudelaire desolado, nostálgico e delicado! Oade está aquella rara, escrupulosa psychose de som, de côr, de aroma, de sensibilidade; a febre selvagem d′aquelles bravios e demoniacos cataclismos mentaes; aquella infinita e arrebatadora Nevrose, aquella espiritual doença que te enervava