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Ha de doer-te fuado esse desolamento, essa morte das almas, essa aridez, essa petrificação de sentimentos em tudo. Ha de doer-te muito que os impotentes se liguem aos impotentes, os nullos aos nullos, os frouxos aos frouxos, os esgotados aos esgotados. Que nada os separe, nada os affaste. Que quanto mais se reconheçam tartufos mais se unam no intuito e no instincto de se conser\ arem inattacaveis, embora, mesmo, no fundo, e fatalmente, se destruam, se odeiem, achando um incommoda a existência dos outros. Ha de doer-te muito que uma envenenada relação secreta os una, os congregue, os irmane, para juntos darem batalha subterrânea, cavilosa e vilã, aos que trazem a clara força tranquilla de um alto Desígnio, como armadura de astros, no peito.

Ha de affligir-te muito que na hora da mais profunda, da infinita Desolação, até os mais Íntimos te abandonem, desapparêçam, como que tocados pela idéa de que os teus extremos fatalismos são inconvenientes e contagiosos!

Ha de fazer brotar em ti a luminosa flor da ironia, o aspecto ousado do Asinino, que quer a todo o transe medir-se comtigo, pôr-se no mesmo parallelo, por que vê tanto como tu, sente tanto como tu, sonha e é tão legitimo ser como tu! í