A Garça Velha
Certa garça nascera, crescera e sempre vivera á margem duma lagoa de aguas turvas, muito rica em peixe. Mas o tempo corria e ela envelhecia. Seus musculos cada vez mais emperrados, os olhos cansados — com que dificuldade ela pescava!
— Estou mal de sorte, e se não tópo com um bom viveiro de peixes em aguas bem limpidas, certamente que morrerei de fome. Já se foi o tempo feliz em que meus olhos penetrantes zombavam do turvo desta lagoa...
E de pé num pé só, o longo bico pendurado, pôs-se a matutar naquilo até que lhe ocorreu uma idéia.
— Caranguejo, venha cá! disse ela a um caranguejo que tomava sol á porta do seu buraco.
— Ás ordens. Que deseja?
— Avisar a você duma coisa muito séria. A nossa lagoa está condenada. O dono das terras anda a convidar os vizinhos para assistirem ao seu esvaziamento e o ajudarem a apanhar a peixaria toda. Veja que desgraça! Não vai escapar nem um miseravel guarú.
O caranguejo arrepiou-se com a má noticia. Entrou na agua e foi conta-la aos peixes.
Grande reboliço. Graúdos e pequeninos, todos começaram a pererecar ás tontas, sem saberem como agir. E vieram para a beira d’agua.
— Senhora dona do bico longo, dê-nos um conselho, por favor, que nos livre da grande calamidade.
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