— Um conselho?... e a matreira fingiu refletir. Depois respondeu: Só vejo um caminho. E’ mudarem-se todos para o poço da Pedra Branca.

— Mudar-nos como, se não ha ligação entre a lagoa e o poço?

— Isso é o de menos. Cá estou eu para resolver a dificuldade. Transporto a peixaria inteira no meu bico.

Não havendo outro remedio, aceitaram os peixes aquele alvitre — e a garça os mudou a todos para o tal poço, que era um tanque de pedra, pequenino, de aguas sempre limpidas e onde ela sossegadamente poderia pesca-los até o fim da vida.

Ninguem acredite em conselho de inimigo.

— Eu não acredito nem em conselhos de amigos quanto mais de inimigos, disse Emilia. Não quero que me aconteça o que aconteceu com o coronel Teodorico.

Ninguem entendeu. Emilia explicou:

— Ele foi para o Rio de Janeiro depois da venda das terras e acabou sem vintem. Por que? Porque acreditou nos conselhos dos amigos do seu dinheiro. Até bondes o burrão comprou! Eu, quando me dão algum conselho, fico pensando comigo mesmo: “Onde é que está o gato?” Porque ha sempre um gato escondido dentro de cada conselho.

Dona Benta arregalou os olhos. Como estava ficando sabida aquela diabinha!

— E em que você acredita, então? perguntou o Visconde.

Emilia respondeu:

— No meu miolo. Não vou em onda nenhuma, nem de inimigo nem de amigo. Cá comigo é ali na batata do calculo...

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