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FANTINA

de linha nas mãos, dizia-lhe que a causa era ter se deitado depois do jantar ; e que não caísse n'outra, porque o defunto marido da sua comadre, o Silva, que Deus houvesse nos reinos do ceu, já lhe fallava que era mau costume aquelle.

Chegava depois o Feliciano, seu visinho, e pedia a viola, e sentados á soleira da porta afinavam o instrumento.

O Feliciano passava por aquellas redondezas como o primeiro pontista; fazia da viola o que queria. Outros visinhos vindos da roça accendiam os cigarros e faltavam dos caetitús que destroçavam o milho.

— Póde acompanhar uma coisinha, tio Feliciano ? perguntou um truculento caboclo.

— Pois não, filho.

E correndo os dedos pelo pinho, este chorava como comprehendendo a vibração que o velho sentia quando o encostava bem ao peito. O caboclo limpando a guela prometteu cantar um jongo que aprendera com um tropeiro do norte.

D'ahi a pouco uma voz forte, de barytono, ia de valle em valle acordando os echos adormecidos no regaço das viridentes raramarias. A viola trinava soltando harmonias irritantes, de um tremulo cheio de sentimentalidades pagans.