I
Adrião, arrastando a perna, tinha-se recolhido ao quarto, queixando-se duma forte dor de cabeça. Fui collocar a chicara na bandeja. E dispunha-me a sahir, porque sentia acanhamento e não encontrava assumpto para conversar.
Luiza quiz mostrar-me uma passagem no livro que lia. Curvou-se. Não me contive e dei-lhe dois beijos no cachaço. Ella ergueu-se, indignada:
— O senhor é doido? Que ousadia é essa? Eu...
Não poude continuar. Dos olhos, que deitavam faiscas, saltaram lagrimas. Desesperadamente perturbado, gaguejei tremendo:
— Perdoe, minha senhora. Foi uma doidice.
— E’ bom que se vá embora, gemeu Luiza com o lenço no rosto.
— Foi uma tentação, balbuciei suffocado, agarrando i chapéo. Se a senhora soubesse... Tres annos nisto! O que tenho soffrido... por sua causa... Não volto aqui. Adeus.
Ketirei-me anniquilado. Na rua considerei com assombro a grandeza do meu atrevimento. Como fiz aquillo? Deus do céo! Lançar em tamanha perturbação uma