criaturinha delicada e sensivel! Tive raiva de mim. Animal estupido e lubrico.

E que escandalo! Misericordia! Naturalmente ella avisaria o marido. Adrião Teixeira com certeza ia dizer-me: “Você, meu filho, não presta.” E mandaria ba­lancear a casa Teixeira & Irmão, onde eu era guarda-livros e interessado, para afastar-me da sociedade. O inventario é rápido num estabelecimento que só vende aguardente, alcool e assucar. Victorino Teixeira, acavallando os oculos de ouro no grosso nariz vermelho, abriria o cofre, contaria o meu saldo com lentidão e, pon­do o dinheiro sobre a carteira, deixaria cahir, naquella voz morosa e nasal, que dá arrepios, este epilogo arra­sador: “Tome lá, João Valerio, veja se confere. Nós julgavamos que o Valerio fosse homem direito. Enga­námo-nos: é um traste.” E eu sahiria escorraçado, mor­to de vergonha.

Segredo que quatro pessoas sabem transpira: al­guma coisa havia de propalar-se na cidade. D. Engracia, teceria mexericos; o Neves forjaria uma calumnia; Nicolau Varejão narraria mentiras espantosas. Assim pensando, eu experimentava um grande mal estar, me­nos pelos dissabores que as chocalhices me trariam que por antever misturado a ellas o nome de Luiza.

Eu amava aquella mulher. Nunca lhe havia dito nada, porque sou timido, mas á noite fazia-lhe sózinho confidencias apaixonadas e passava uma hora, antes de adormecer, a acaricial-a mentalmente. Até certo ponto isto bastava á minha natureza preguiçosa.

Ás quintas e aos domingos ia aos chás de Adrião. Ficavamos tempo estirado cavaqueando — e era para mim um verdadeiro prazer tomar parte em duas conversações cruzadas sobre moda e cambio. Algumas ve­zes Luiza falava de contos, versos, novellas. O marido ferrava no somno. Ou então, com enormes bocejos, lá se ia claudicando, a lamentar que a enxaqueca não lhe