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GRACILIANO RAMOS

João Nogueira queria o romance em lingua de Camões, com periodos formados de traz para diante. Calculem.

Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da revolução de Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E eramos amigos. Patriota. Está direito: cada qual tem as suas manias.

Afastei-o da combinação e concentrei as minhas esperanças em Lucio Gomes de Azevedo Gondim, periodista de boa indole e que escreve o que lhe mandam.

Trabalhámos alguns dias. Á tardinha Azevedo Gondim entregava a redacção ao Archimedes, trancava a gaveta onde guarda os nickeis e as pratas, tomava a bicycleta e, pedalando meia hora pela estrada de rodagem que ultimamente Casimiro Lopes andava a concertar com dois ou tres homens, alcançava S. Bernardo. Commentava os telegrammas dos jornaes, atacava o governo, bebia um copo de cognac que Maria das Dores lhe trazia e, sentindo-se necessário, commandava com submissão:

— Vamos a isso.

Iamos para o alpendre, mergulhavamos em cadeiras de vime e ageitavamos o enredo, fumando, olhando as novilhas Caracu que pastavam no prado, em baixo, e mais longe, á entrada da mata, o telhado vermelho da serraria.