lacaio por cima das telhas. O ajudante estava no delírio da raiva; se a princípio se mostrava irritado por conta do governador, agora era pela sua própria que esbravejava como um possesso.

— Marau, gambirra, fundilho de Judas, lêndea do Cão-Tinhoso, fedelho de Satanás!...

Por este jeito vociferou durante algum tempo o ajudante, notável pela fertilidade dos epítetos mais pitorescos e originais, com que nos seus momentos de sanhuda eloqüência ele enriquecia o idioma das regateiras.

Observando o governador que seu ajudante começava a exceder-se, deu de rédea ao cavalo e passou adiante com o secretário, cujo eterno sorriso se encrespara com um ligeiro tom de ironia ao ver o destampatório do capitão.

Quando passavam pela frente da casa, abriu-se a porta, e saiu um homúnculo, armado com uma cabeça de pitorra e enfaixado em um quimão de primavera. Desbarretando-se até ao chão, desfazia-se em cortesias tão rasteiras, que mais pareciam dirigidas ao cavalo do que ao cavaleiro.

— Boa tarde, sr. almotacé.

— Aos pés da muito alta plosopéia do exmo sl. govelnadol!