já ingerindo-se nas cousas de justiça, já provendo postos que não cabiam em sua alçada.

E não andava ele mal informado, pois ao próprio Sebastião de Castro mandou El-Rei estranhar asperrissimamente por se intrometer nos negócios de justiça, e também por exigir que a Câmara de Olinda lhe desse o tratamento de Senhor, a igual da majestade. Prova isto que o rei-povo é menos que o rei-só zeloso de suas prerrogativas, e mais bonachão com seus governadores e ministros.

Com tais antecedentes não havia reparar na surpresa de Rebelo ao saber do conceito em que o tinha Sebastião de Castro e do empenho que tomava pela realização do mais ardente voto de sua alma.

— Fui injusto! É homem de ânimo generoso, e um nobre coração! disse o mancebo penhorado da fineza.

Havia então no Recife um letrado que vivia dos provarás, porém mais da rigorosa economia, a que se acostumara. Chamava-se Carlos de Enéia e era homem de meia-idade, metido consigo, que o mais do tempo levava a rabiscar papel.

Há suspeitas de que seja o incógnito autor da crônica manuscrita donde extraíram-se estas memórias, e na qual porventura se refugiava o advogado do nojo pelas misérias públicas que o rodeavam.

Fora Enéia algum tempo secretário de Sebastião