O ESPERADOURO
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«A transferencia de meu tio Tructesindo de Lugo para Mendumeto, cujo territorio, que ora governa, fica mais sob a mão da curia ; e a chegada n'estes ultimos dias do conde Gondemir com poder supremo em Lugo, que ainda é mysterio até para meu pae, senão que suspeita seja signal de desvalimento do valido, Quiçá não fosse estranha tal mudança ao negocio que preoccupa o bom diacono.»

«Não é mal lembrado, e póde bem ser. Quanto ao mais, tenho para mim que o conde Froya não acertou. Mauregato não é homem da sua vontade: como todo o rei fraco e cobarde, não governa, é governado; sua mesma sombra o assombra, e quem lha faz parecer maior, maior segurança tem de se assegurar d’elle, conservando-o firme e esforçado na própria fraqueza. É o que faz a curia. Ainda que Mauregato se aggravasse d'aquelle agareno-christão, Gondemir, que se poderia bem chamar seu hahgib, não teria animo para afastal-o do paço, sem prasme da curia, onde predominam os advendiços a que o proprio rei é vendido em corpo e alma, e dos quaes Gondemir é o mais poderoso. Anda ahi cousa en coberta. O certo é que o conde Tructesindo mantinha trato com Bermudo; e ha quem diga que não é muito firme no seu desamor a Affonso, cuja causa pode ser que esteja ora mais uma vez em via de acordar, sem quebra de boa fé, mas com melhor promessa para quando o tempo der váo.»

«Deus encaminhei pois sabes que não quero mal ao foragido.»

«Ai de ti, Ermesinda, se taes palavras chegassem aos ouvidos de Froya Gutheres! Mas não ha sopro esta noute com força para lh’as levar — disse o mancebo, gracejando, e apontando para traz na direcção do castro de Folgoso, que porem se não via de ali.

«Estás um tanto enganado, Guesto. Elle sabe que sua filha não é affeiçoada a Mauregato, homem indigno e refece. Sabe tambem quanto lastimo a morte dada a el-rei Froila, o que hei lido sempre por feito torpe, sem porém dizer tanto a meu pae…»

«Se elle foi um dos sete condes!»

«Sim, foi dos conjurados; mas estou bem certa que não deu o golpe.»