— Menina! exclamou D. Úrsula em tom de repreensão.
Helena sorriu de alegria e agradecimento; era a primeira palavra de verdadeira simpatia que ouvia a D. Úrsula. Bem o compreendeu esta; e talvez a mortificou aquela espontaneidade do coração. Mas era tarde. Não podia recolher a palavra, não podia sequer explicá-la.
— Que tal virá o teu amigo? perguntou ela ao sobrinho. Era bom rapaz antes de ir; um pouco tonto, apenas.
— Há de vir o mesmo, respondeu Estácio; ou ainda melhor. Melhor decerto, porque dois anos mais modificam o homem.
Estácio fez aqui um panegírico do amigo, intercalado com observações da tia, e ouvido silenciosamente pela irmã. Vieram chamar para o chá. D. Úrsula largou definitivamente o seu romance, e Helena guardou o crochet na cestinha de costura.
— Pensa que gastei toda a tarde em fazer crochet? perguntou ela ao irmão, caminhando para a sala de jantar.
— Não?
— Não, senhor; fiz um furto.
— Um furto!
— Fui procurar um livro na sua estante.