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edifício appropriado á lugubre instituição, pondo á frente desta, como commissario geral, um theologo, Teofilo di Tropea, capaz de realisar as suas idéas de intolerancia[1]. As opiniões protestantes tinham coado na Italia, como por quasi toda a Europa, e era sobretudo a combater as heresias desta ordem que as inquisições italianas se dirigiam; mas o judaismo cahia tambem debaixo da sua alçada, posto que a condição dos que seguiam a lei de Moysés fosse na Italia incomparavelmente mais favoravel do que em Portugal. Alli, aquelles que, nascidos e educados na religião judaica, faziam della profissão publica toda a sua vida, eram tolerados: d'ahi, porém, não se seguia que aos que tinham recebido o baptismo fosse licito judaisar occultamente, guardando no exterior as apparencias do christianismo.

Desde o começo da lucta entre D. João iii e uma parte dos seus subditos, os procuradores destes em Roma não combatiam a Inquisição pelos mesmos fundamentos que hoje a tornam odiosa aos olhos da philosophia; não controvertiam a legitimidade dos principios

  1. Ranke, Die Roemischen Paepste, 2 B. S. 298 u. f.