— No galinheiro. Mas estava sem vidros e eu apenas aproveitei a armação. O que há dentro dele são coisas feitas por mim e fazem parte do invento.
Pedrinho, que não estava ali, chegou nesse instante, muito vermelho de sol, chupando uma cuia de laranja-lima. Ao ver o binóculo gritou:
— O meu binóculo! Onde estava? Há quanto tempo ando procurando o meu binóculo...
— Seu, não! Dobre a língua. O binóculo é de vovó — protestou Narizinho.
Dona Benta interveio para evitar celeuma: — Pedrinho está certo. O que é meu é dele também."
— Mas onde estava? — insistiu o menino, e quando soube que o Visconde o havia encontrado no galinheiro, debaixo da palha de um ninho de galinha, fulminou Emília com os olhos. Quem poderia ter escondido lá o binóculo senão ela? Sempre que brigava com alguém, a vingancinha de Emília era essa: esconder os objetos de mais estimação do "inimigo".
O Visconde falou meia hora sobre a sua invenção, e ia entrar na parte puramente científica quando Emília o interrompeu:
— Isso fica para depois. Agora o que queremos é a demonstração na batata! Mostre-nos uma coisa invisível, senão eu já escangalho com essa joça.
— Vê, Sinhá, como está ficando esta "rainha do mundo"? — disse tia Nastácia, que acabava de entrar com dois frangos na mão, para saber qual deles matava. "O plimu ou o rode?"
Dona Benta escolheu o frango que ia ser vítima da fome de seus netos e a negra se retirou, fazendo para Emília o gesto de chinelada no traseiro, enquanto a ex-boneca lhe punha a língua. Em seguida, voltando ao assunto do periscópio, a diabinha berrou: — Demonstração! Queremos a demonstração do invento!
O Visconde pediu que escolhessem o que queriam ver, e cada qual quis uma coisa. A idéia vitoriosa foi a de Narizinho.
— Já ouvi falar que onde há chapéu-de-sapo há também por perto anõezinhos invisíveis.