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MONTEIRO LOBATO

— Essa idéia é minha — reivindicou Emília. — Eu tive a intuição disso e agora podemos tirar a prova. Resta que haja algum chapéu-de-sapo no pomar.

— Perto da cocheira da vaca mocha nasceram muitos esta noite — disse Pedrinho. Passei por lá ainda agorinha e vi.

— Pois vamos ver isso — disse o Visconde, arrumando o canudo, o binóculo e o fio na caixa de papelão.

E lá se foram todos rumo à cocheira da vaca mocha, que ficava no fim do pomar. De passagem Pedrinho apanhou e descascou várias laranjas-limas, cortou-as e ofereceu uma cuia a cada um.

— Como Pedrinho está amável! — observou Dona Benta, mas Emília desmascarou incontinenti a amabilidade do menino: "Ele gosta da cuia da ponta, por ser mais doce, por isso é que é tão oferecido em descascar laranjas: meio de se regalar só com as cuias da ponta."

Pedrinho apenas disse: "Peste!"

Chegados lá perto da cocheira da vaca mocha, viram logo um bonito grupo de chapéus-de-sapo muito perfeitinhos, brotados naquela noite.

— Ótimo! — exclamou o Visconde. — Se a idéia de Emília está certa, havemos de ver por aqui muitos anõezinhos — e desembrulhou o pacote; colocou o canudo no chão, apontado para os cogumelos, e estirou o arame por uns vinte metros de distância. Não podemos ficar muito perto, senão o invisível se espanta. — Acomodaram-se todos debaixo duma árvore, e Pedrinho fez uma armação de dois paus de gancho, onde colocou o binóculo na altura mais cômoda para o observador. E ainda arrumou uns tijolos empilhados, para o observador sentar-se — ou ficar de pé em cima, no caso de ser do tamanhinho da Emília.

— Pronto! Podemos começar, e quem vai ver primeiro sou — gritou a ex-boneca.

— É vovó! — protestou Narizinho. — Primeiro os mais velhos. Venha ver, vovó.