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MONTEIRO LOBATO

A Gata Borralheira apontou para o mostrengo que andava desajeitadamente, com uns pés esparramados, como os de Carlitos.

— Foi aquele bruto!

— E quem é ele? — indagou o príncipe, que nunca vira no Mundo da Fábula um semelhante estupor.

— Pois é o tal Pé Espalhado, invenção da Emília — informou a Borralheira. — Ela tem a mania dos pés. Antigamente andou às voltas com um "Pé-de-Vento". Agora inventou esse "Pé Espalhado..."

Nesse momento Branca de Neve subiu a uma cadeira e bateu palmas.

— Ordem! Ordem! Tenho a honra de avisar aos meus amáveis convivas que a grande novidade da noite vai ser agora. O Tapete Mágico acaba de chegar com seis fadas! É a primeira vez que em nossas festas as fadas nos dão a honra de comparecer.

Fez-se profundo silêncio. Todos se voltaram para a direção que Branca, em cima da cadeira, apontava. E as fadas entraram...

Que maravilhosas criaturas! Pareciam sonhos vivos. Porque as fadas são para o mundo como é o perfume para a flor, como é o sabor para a fruta.

Entraram em grupo, de mãos dadas, sorrindo. O andar delas tinha uma leveza de pluma. Vinham como que pairando no chão, como as aves pairam no céu. E como eram só fadas boas, não havia uma que não fosse de incomparável beleza.

Peter Pan firmou a vista e reconheceu uma delas.

— Sininho! Sininho!...

E a fada Sininho, que fazia parte do grupo e era a mesma que o salvara do veneno dos piratas, saiu do grupo e foi beijar o valente garoto...

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Nesse momento, o Gato de Botas, já sem botas, sem chapéu de plumas, sem casaco de veludo, só de calções, reapareceu no recinto da festa, vindo lá da escuridão do pomar. Sempre em perseguição do ratinho — e já estava pega-não-pega.