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HISTORIA DO FUTURO.

a tua ingratidão; porque se me não contas com Daniel entre os vivos, eu me conto com Samuel entre os mortos; se nas letras que interpreto achára desgraças (bem poderá ser que as tenhas) eu te dissera a má fortuna sem receio, assim como te digo a boa sem lisonja: mas é tal a tua estrella (benignidade de Deus comtigo deverá ser) que tudo o que leio de ti são grandezas, tudo que descubro melhoras, tudo o que alcanço felicidades. Isto é o que deves esperar, e isto o que te espera; por isso em nome segundo e mais declarado chamo a esta mesma escriptura Esperanças de Portugal, e este é o commento breve de toda a Historia do Futuro.

Mas vejo que o mesmo nome de Esperanças de Portugal lhe poderá com razão suspender o gosto, assustar o desejo, e embaraçar os mesmos alvoroços em que o tenho mettido com estas esperanças: Spes, quæ differtur, affligit animam, (Prov. XIII- 12) disse a verdade divina, e o sabe e sente bem a experiencia e paciencia humana, ainda que seja muito segura, muito firme, e muito bem fundada a esperança, é um tormento desesperado o esperar.

Muito seguras eram, e tão seguras como a mesma palavra de Deus (que não póde mentir nem faltar) as promessas dos antigos prophetas: mas cançava-se tanto o desejo na paciencia de esperar por ellas, que vinham a ser fabula do vulgo em Jerusalem as esperanças das prophecias: assim conta esta queixa Isaias no capitulo 28, que pelas ruas e praças da corte se andavam cantando por riso as suas esperanças, e que a volta ou estribillo da cantiga, era:

Expecta, reexpecta.
Expecta, reexpecta
Modicum ibi.
Modicum ibi.
(Isai. XXVIII- 10)

Esperavam, reesperavam e desesperavam aquelles homens, porque em muitas coisas das que lhes promettiam as prophecias, primeiro se acabava a vida, do que chegasse a esperança. Deixa-