ram os paes em testamento as esperanças aos filhos, os filhos aos netos, e nem estes, sendo então as vidas mais compridas, chegavam a ver o cumprimento do que tão longamente tinham esperado: as esperanças da terra de promissão deixou-as Abrahão a Isaac, Isaac a Jacob, e Jacob aos doze patriarchas; mas todos elles morreram e foram sepultados no Egypto: a quem ha de cobrir a terra do Egypto, que lhe importam as esperanças da terra de promissão? No captiveiro de Babylonia prégavam e promettiam os prophetas que Deus havia de levantar mão do castigo, e restituir o povo à sua antiga liberdade e se lhe perguntavam quando, respondiam e affirmavam constantemente, que d'alli a setenta annos. (Hier. XXIII-10) Boa esperança para um captivo, ainda que não fosse muito velho. De que me serve a esperança da liberdade, se primeiro se ha de acabar a vida? O mesmo podem arguir os que hoje vivem com estas esperanças, que eu lh'as prometto: grandes são essas esperanças de Portugal; mas quando ha de vêr Portugal essas esperanças?
Ponto é este que depois se ha de tractar muito de proposito, e em que a nossa historia ha de empregar todo o quinto livro: por agora só digo que me não atrevèra eu a prometter esperanças, se não foram esperanças breves. Deus na lei escripta, como notaram graves auctores, (Com. Padres e Doctores) nunca prometteu o céu expressamente, porque o que se não póde dar logo não se ha de prometter: prometter o céu para ir esperar por elle ao limbo, são promessas em que por então se dá o contrario do que se promette: taes são as esperanças dilatadas: se nellas se promette a vida, são morte; se nellas se promette o gosto, são tormento; se nellas se promette o paraiso, são inferno.
O limbo chamava-se inferno; e porque ? Porque era um logar onde se esperava tantos annos pelo paraiso: não me tenha a minha patria por tão cruel, que lhe houvesse de prometter martyrios com nome de esperanças. Para se avaliar a esperança, ha se de medir o futuro, e não é este o futuro da minha Historia. São Paulo, aquelle philosopho do terceiro céu, desafiando todas as creaturas, e entre ellas os tempos, dividiu os futuros em dois futuros: Neque instantia, neque futura. (Rom. VIII-38)