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rosto sempre corado e risonho, com o voluptuoso meneio das esbeltas e bem tornea­das formas fascinava os olhos, abrasava a imaginação, e era capaz de fazer arder em febre de sensualismo o mais estoico e frio temperamento. Paulina com a suave e angélica figura inspirava respeito, amor e adoração, insinuava-se no coração como um meigo raio da lua no seio de um lago dormente, e aí ficava para sempre estampada.

As qualidades de Lucinda, Eduardo as pesava e exagerava no espírito a ponto de convertê-las em abomináveis defeitos, enquanto Paulina lhe aparecia rodeada de uma auréola cada vez mais prestigiosa de candura e beleza. Seu pensamen­to volvia-se de contínuo com a mais viva saudade para a fa­zenda de Joaquim Ribeiro, recordava traço por traço as feições de Paulina, seus gestos, suas palavras, e admirava-se de ver como tudo lhe ficara tão intimamente gravado na memória; eram como caracteres apagados, que um reativo faz subitamente reaparecer vivos e distintos.

Lucinda era duplamente culpada para com Eduardo. Com sua deslealdade lhe havia trancado por dois lados os cami­nhos da felicidade e do amor. Mas não era a perda de Lucinda, que ele agora lastimava; antes o amor, que lhe havia consa­grado, se ia convertendo