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Paulina, ainda que Eduardo disso não tivesse consciência, tinha-lhe ficado para sempre gravada no coração em profun­dos e indeléveis caracteres. Não havia nele ainda uma paixão, porque havia um obstáculo, outra paixão; o coração humano não pode conter a um tempo duas paixões; na tela, onde existe um retrato, não se pode estampar outro sem apagar o primeiro.

Não havia ainda paixão, mas existia o gérmen dela, gér­men que só esperava a ocasião e o terreno livre para desen­volver-se com todo o viço e energia. Assim acontece por vezes, que debaixo do chão ocupado por uma planta robusta existe oculta a semente de outra planta. Se o ardor do sol ou a geada cresta, e faz definhar a primeira, esta cresce e rebenta com tal viço e força, que sufoca e mata a primeira, e toma como conta do terreno.

Eduardo confrontara no espírito as graças tão naturais, o porte modesto, e o sorriso tão meigo de Paulina com os ademanes faceiros e pretensiosos e a garridice de Lucinda, a cândida inocência de uma com a maliciosa vivacidade de outra, e compreendia que, se tivesse tido a dita de tê-las visto ambas a um tempo com o coração livre e espírito desprevenido, nem um momento teria hesitado na escolha. Lucinda com seu gentil donaire um pouco desenvolto, seu