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campinas, que a rodeavam de risonhas perspectivas, aquelas tardes mornas e voluptuosas, tão prenhes de perfumes e canções, tudo isso tinha-se extinguido para aquela alma, que recolhida em si mesma só via o hori­zonte turvo e funéreo de suas agonias. Erra, quem pensa que o espetáculo da natureza na solidão, que a mudez e remanso dos ermos pode adormecer as dores fundas do coração, consolar os grandes infortúnios; a solidão tem para o desgra­çado o olhar impassível de uma companheira, que nos sorri e nos afaga na adversidade com o mesmo sorriso, com que nos afagou em horas de ventura e de alegria.

Os sofrimentos da alma se faziam sentir de um modo assustador na organização física de Paulina. O verme peço­nhento tinha pousado no âmago da tenra e mimosa flor do deserto e, devorando-lhe a seiva da vida, deixava nele o gérmen da morte. Já ninguém a via como outrora esbelta e ágil como a ema percorrer as campinas em busca de flores e frutas, nem ir sentar-se corada e risonha à sombra do laran­jal, ou na relva da fonte a coser e a cantar entre as escravas. Quando saía do seu quarto, onde passava os dias a coser ou a ler maquinalmente, viam-na pálida e vacilante arrastar-se a passos lentos ao longo dos corredores, descer ao curral, pro­curar a sombra da gameleira,