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sentar-se sobre a mesa do mesmo carro onde ouvira da boca de Eduardo a fatal revelação, que a tornara infeliz para sempre, e ali com as mãos agarradas a um dos fueiros e a face encostada a elas, os olhos fixos ao longe pela estrada que se perdia serpeando pelas colinas, ficar horas e horas entregue a um torpor melancólico, que a tornava como estátua.

O pai notava com a mais viva inquietação e ansiedade o rápido definhar de sua filha, e desesperava-se vendo que todos os cuidados e desvelos, todos os meios de que lançava mão, não conseguiam atalhar os progressos do mal, que ameaçava roubar-lhe sua única e querida filha.

– Que tens, Paulina, que cada vez te vejo mais pálida e abatida, dizia-lhe o pai já talvez pela centésima vez. Tu sofres alguma coisa que não me queres dizer. É preciso que te distraias, que recobres as tuas cores, a tua antiga ale­gria, que voltes ao que dantes eras, se não queres que eu morra de desgosto.

– Ah! meu pai, eu mesmo não sei o que sofro; não tenho indisposição, nem dor alguma; entretanto acho-me mal. O que sei dizer é que desde o dia em que estive a ponto de cair nas garras daquela onça, já não sou a mesma, e creio que nunca mais o serei. De que serviu aquele moço ter-me livrado das