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um triste sorriso, sentando-se em um tamborete junto à cabeceira da enferma. – Deus ainda pode permitir que eu a salve de outros males. Por quem é, não me queira mal... diga-me, vai se sentindo melhor?...

– E que lhe importa?... eu não tenho nada... Como vai a sua querida lá da Franca? seguramente já se casaram, não é assim?...

O delírio de Paulina exaltava-se com a presença de Eduard­o; suas palavras desassisadas, seus olhares desvairados dilaceravam o coração do mancebo que já se arrependia da visita, que por condescender com o velho lhe viera fazer.

– Por compaixão, – respondeu-lhe o moço, – não me fale nisso, d. Paulina, essa mulher morreu para mim...

– Morreu?... pois que tem isso? eu também não vou morrer?... não sabe? esta noite sonhei com ela... estava em uma sala de baile... vestida com um luxo e uma riqueza de espantar... começou a dançar uma valsa com o senhor... de repente foi-se virando em um dragão medonho, enroscou-se-lhe por todo o corpo, e começou a lhe morder a nuca... o senhor dava gritos desesperados, mas todo o mundo fugia espa­vorido; eu fiquei só e queria lhe acudir; mas meus pés estavam agarrados no chão, e meus braços não podiam