Página:Historia e tradições da provincia de Minas-Geraes (1911).djvu/180

de laranjeira. Uma chusma de passarinhos esvoaçava e trinava pelos ramos florescidos do pomar; os colibris verdes cruzavam-se zumbindo pelos ares, lindas borboletas entravam e saíam volteando pelo quarto, e por baixo mesmo da janela, pousada sobre uma romeira ressonava uma suavíssima e festiva orquestra de pintassilgos. O ar estava tépido e sereno, e o céu de um esplendor e limpidez maravilhosa.

Paulina estava plácida e calma, mas em tal palidez e imobilidade, que mais parecia uma estátua de alabastro. Pouco a pouco porém ao contato daquele ar puro e embalsamado, da­quela luz suave, suas feições foram-se reanimando, um leve matiz de rosa assomou-lhe às faces, seus olhos encheram-se de um meigo fulgor, e denunciavam que uma alma vivificava ainda aquele formoso e delicado corpo. Apesar da sua prostração, no rosto de Paulina transluzia um bem-estar, uma serenidade angé­lica; seus seios arfavam brandamente, um meio sorriso da mais suave expressão estava fixo em seus lábios, e sobre a fronte parecia que lhe pairava um reflexo da bem-aventurança.

Parecia reinar naquele aposento um não sei quê de místico e beatífico, um eflúvio celestial que todos aspiravam em santo e silencioso recolhimento. Eduardo, sobretudo, cheio de emo­ção, de amor e de esperança,