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Ali na solidão daquela fazenda, todos os dotes que Paulina recebera da natureza e da educação, vieram a tornar-se-lhe inteiramente inúteis. As belas faculdades de que o céu a dotara, e que no colégio começavam a desabrochar com brilho, ali, sem achar expansão alguma, concentravam-se em si mesmas, e Paulina, que tinha muita sensibilidade e imaginação viva, foi-se tornando de um caráter disposto à melancolia e a essas paixões vagas, que ao despontar da puberdade costumam atormentar as organizações poéticas e delicadas. Poucas vezes deixava o retiro de sua fazenda para ir a Uberaba, que aliás naquele tem­po era ainda uma insignificante aldeia. A família de um fazen­deiro vizinho, seu parente, que morava daí a duas léguas, era a única que de quando em quando vinha interromper com suas visitas a monótona solidão do viver de Paulina. Seu pai bem a induzia a passear mais freqüentemente ao arraial, a ir passar alguns dias em companhia de suas primas. Mas ela parece que não achava muito encanto na companhia das primas nem nas festanças do arraial, e lhes preferia a solidão de sua casa e a companhia de seu velho pai, para quem era toda extremos, e poucas vezes se utilizava dessas permissões. Alguns passarinhos, o cuidado de um pequeno e lindo jardim, alguns livros e seus trabalhos de