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Espavorida com aqueles berros a onça estacou um momento.

Ela estava apenas como a uns duzentos passos do rancho; perto se achava um tronco de peroba meio tombado, que ao cair ficara engastalhado na galhada de uma árvore vizinha. A onça pulou nele, e correu a empoleirar-se no ponto mais alto, a que pôde galgar. Os cães, que a perseguiam, desembocavam da mata e se reuniam embaixo do tronco, escalavrando-o com unhas e dentes, e dando saltos e ganidos furiosos. Assalto inútil! a onça passeava mui ancha e sobranceira ao longo do pau, e ora subia até a mais alta grimpa, ora descia até quase ao alcance deles, arreganhando-lhes os dentes como num sorriso feroz a mofar de seus vãos esforços, e apoiando a cabeça enorme sobre as patas dianteiras os contemplava bem de pertinho, e como que os contava um a um em ar de desdém.

Entretanto o fazendeiro acompanhado de seus escravos vinha atropeladamente rompendo através das coivaras, e se aproximava da fera.

Paulina que transida de pavor mal ousava deitar a cabeça fora da portinhola do rancho, em vão bradava com quantas forças tinha: Meu pai! meu pai! por quem é? não vá lá!

O velho avizinhou-se intrépido do terrível animal,