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os mais estavam na mais cruel aflição e desassossego por se acharem naquele ermo tão longe de qualquer recurso. Lava­tórios de água fria, fios e ataduras, que eram os meios de que ali se podia lançar mão, nada conseguia estancar o san­gue, que corria copioso das feridas. A própria Paulina, a quem o pai em rápidas e animadas palavras contara o ocorrido, já esquecida do seu susto, pálida e consternada se debruçava sobre o corpo exânime do ferido, e rasgando o lenço e a saia do seu vestido fazia atilhos e chumaços, que com suas próprias mãos ia aplicando sobre as feridas.

Felizmente, mais sabido do que todos eles em matéria de curar feridas, um preto velho tinha corrido ao mato, e voltava com um punhado de folhas na mão. Apenas chegou, todos se arredaram para lhe dar lugar. O preto ajoelhou-se perto do ferido, tirou todos os fios e ataduras, e fazendo pantomimas e murmurando palavras cabalísticas, mascou três ou quatro bocados das folhas que trazia, e foi deitando-as sobre as feridas. Em poucos instantes o sangue estava estancado, e o caçador conduzido para o interior do rancho e cuidado­samente deposto sobre uma esteira, em menos de uma hora recobrou os sentidos. Dali forçoso era levá-lo para casa do fazendeiro para ser convenientemente tratado, pois havia perdido muito sangue e seu estado era melindroso.