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espaços sua leitura para ralhar e dar ordens a seus campeiros e escravos. Enfim o chiado dos carros, que se avizinhavam carregados de cana para o engenho, acabava de azoinar todos os ouvidos com aquele zunido agudo, inces­sante, desesperador, que nos martiriza e quase arromba os tímpanos, som de uma intensidade e aspereza tal, que não há no dicionário palavra assaz expressiva para significá-lo.

Enquanto se dava toda aquela barafunda e vozeria, Ro­berto desceu aos pinotes para o curral boleando em torno da cabeça um comprido laço. Aquela tropelada tinha-lhe sugerido um expediente, que de pronto tratou de pôr em execução para atrapalhar a conversa dos dois jovens.

– Olá, prima! – bradou ele de longe para Paulina com voz atordoadora e sempre boleando o seu laço. – Olhe cá; quer ver como se laça e se dá um tombo de rachar em qual­quer destes boizinhos? – Matias! – gritou ele para um dos campeiros, toca para cá aquele boi laranjo, espanta-o bem, de modo que venha bem disparado.

O rapaz espantou o boi, que correndo à disparada passou a algumas braças de distância por diante de Roberto; este atirou-lhe o laço, que caiu-lhe direito sobre os chifres. O moço segurou a extremidade do