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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

Assim tambem se eleva o cantico suave
De uma ave que estremece á espera de outra ave
Nas alcôvas em flôr que tece o mez de abril.

Não tardou que chegasse, á volta do redil,
Amyntas, o pastor, já recolhido o gado.
—«Grinaldas! Para que?»
 —«Para o nosso noivado»
Córando de pudor, Glycera respondeu,
E emquanto elle a fitava, ella os olhos desceu.
—«Disseste muito bem, minha amada Glycera,
Vamos ambos colhêr jasmins e folhas de hera.
Sim!... Tu não serás de outro? É minha a tua mão?
De mais ninguem será?»
 —«Eu te juro que não.»
—«Agora sou feliz! Vou dar-te, porque és minha,
Aquella ovelha branca, ess'outra malhadinha
Que valem um milhão! Iguaes inda não vi!
Mas, porque tu és minha, eu dou-t'as para ti.
Olha, que lindas são! Valem um bom rebanho
Na côr, na timidez, no pello e no tamanho!
Só teu, de mais ninguem, é o fresco laranjal,
Que dá tão dôce sombra ao meu... ao teu casal.
Dou-te do meu redil os dois novilhos bravos,
E as colmêas que tenho, e todo o mel dos favos,
As arcas, o bragal, peculio do pastor,
E, acima d'isto tudo, o meu eterno amor.»
E, sorrindo enlevada, a formosa Glycera
Alternava jasmins com verdes folhas de hera.