REI E PASTOR
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II

Era o rei James V um joven rei feliz,
Que de lendas de amor encheu todo o paiz
Da sua bella Escocia, alcantilada e fria,
Onde o seu coração a neve derretia.

Soam trompas de caça, e em célere tropel
Passa o rei cavalgando o seu veloz corcel
Entre nuvens de pó; e seguem-no monteiros
E pagens de libré e mastins e rafeiros.

Do freixo á verde sombra, assentada no chão,
Glycera, de medrosa, ouvia o coração.
—«Bons dias, pegureira.»
 —«Os mesmos vos desejo.»
Disse-lhe ella córando ou com medo ou com pejo.
—«Que fazes por aqui? Esperas teu pastor
N'este ermo pinheiral?!»
 —«Não espero, senhor.»
—«Como te chamas tu?»
 —«O meu nome é Glycera.»
—«Que linda e que gentil! Tu és da primavera
A mais formosa irmã!...»
 —«Mercê que me fazeis.»
—«Se alguem te rouba aqui?»
 —«Sou pobre, bem sabeis.
Ninguem rouba á pobreza. Ella de si é escassa.»