Sabendo que se tratava de remover para S. Vicente de Fóra os restos mortaes da rainha D. Luiza de Gusmão, e que o feretro ia ser aberto para se verificar se havia sido violado como constava ás justiças da Boa Hora, não quiz perder a occasião de examinar por meus proprios olhos os ultimos despojos d'essa notavel dama do seculo XVII, tão energica junto de seu marido, tão resoluta na fragilidade do seu sexo, mas tão sincera na firmeza da sua justa ambição.
Fui.
Antes que o acto judicial principiasse, aproveitei o tempo visitando o convento, a que D. Luiza de Gusmão se recolheu a 17 de março de 1663, e onde tres annos depois fallecêra.
É vasto o convento, sem que todavia nada tenha de monumental. As Agostinhas Descalças não ostentavam pompas monasticas. Ha no interior do convento todo o aspecto de uma clausura severa: longos corredores sombrios, cellas estreitas e mal allumiadas, tendo sobre a porta e o fundo da parede alguma legenda biblica, alguma inscripção religiosa, por exemplo—Da cella ao céo—Não póde o servo servir a dois senhores.
A abundancia de altares—pois vimos n'um a designação de 193—denuncía que o culto era alli fervoroso, e que não se podia dar um passo no interior do convento sem ter diante dos olhos a imagem de um santo, de uma santa ou do Redemptor.
Mas os nichos dos altares estão vazios, as imagens e as reliquias desappareceram; convento e