O escrivão da puridade, não tendo já tempo para fugir de Setubal, fôra esconder-se em casa de um velho escudeiro de seu pai, de nome João Pegas, que não duvidou recebel-o, a despeito do perigo que por esse facto podia correr.
Pegas metteu o filho de seu amo dentro de uma grande arca sem fundo. Fingindo que guardava pão na arca, alimentava todos os dias o conspirador.
Uma escrava preta, que havia em casa, cuidou ouvir gemidos, que sahiam da arca. Disse-o a João Pegas que, receiando se descobrisse o segredo, ordenou á preta que se calasse até que elle no dia seguinte verificasse se era verdadeiro ou não o caso dos gemidos.
Ao outro dia, a escrava tornou a ouvir gemer. Foi dizel-o a João Pegas, que se levantou do leito immediatamente, e a mandou buscar um balde de agua ao poço.
Quando a escrava estava tirando a agua, Pegas precipitou-a no poço, esperando cautelosamente que ella acabasse de escabujar na afflicção extrema dos afogados.
Logo que reconheceu que estava morta, gritou publicando que a escrava se afogára.
Mas o segredo do escondrijo de Fernão da Silveira ficou no fundo do poço, que era o que João Pegas queria conseguir.
Decorreu tempo, e o escudeiro tratou de fazer sahir de Portugal o seu hospede. Valeu-se para isso de um mercador, que se chamava Bartolo, e que le-