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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

Para contrastar com a pagina melancolica em que discretêa sobre a morte, dá-nos Maximiliano a descripção de uma burricada em Cacilhas, a pretexto de um lunch, em que certamente foram convivas os officiaes da fragata Novara, porque o archiduque diz-nos que nem elle nem os seus companheiros de equitação sabiam uma palavra de portuguez.

Maximiliano não occulta os tormentos por que passaram as azemolas cacilheiras apertadas sob os joelhos dos cavalleiros austriacos. Era, diz elle, um steeple-chase furibundo, de collegiaes em gazeio. Volteavamos a galope—a galope! que sacrificio para um burro de Cacilhas!—punhamo-nos em pé sobre a sella (queria dizer albarda) fazendo proezas de equilibrio mais ou menos gracioso.

Os pobres burros é que não acharam decerto graça nenhuma á patuscada furiosa dos austriacos. Mas vingaram-se, olá! porque um burro vinga-se sempre. Cada burro de Cacilhas tem na vingança, mal comparado, o coração de D. Pedro I. Pregaram com os austriacos no chão, enrodilharam-n'os na poeira do caminho, fizeram d'elles, incluindo o archiduque, gato-sapato. Oh! triumpho do patriotismo asinino sobre a tyrannia estrangeira! Desconfio que os austriacos se deram finalmente por vencidos; pois que, desistindo da perigosa equitação, se agruparam n'um pinheiral para almoçar,—sur la verdure.

Quem imaginam os senhores que pretendeu estorvar-lhes o almoço? Os burros? Parece á primeira