UM REI E UM CONSPIRADOR
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mandaveis pôr, dizem de vós os letrados que não era de direito de se pôrem na forma que querieis, dissestes que quem aquillo dissesse o mandarieis esfolar e cobrir a cadeira de sua pelle e isto ao Doutor Nuno Gonçalves, que quizestes lançar a perder por uma sentença que deu segundo lhe parecia direito no feito de Cezimbra; d'estas taes pudera dizer muitas, mas, sobre cousa tão clara como a vossa injustiça, não cumpre muitas provas, bem se sabe que nenhum homem em vosso reino não ha de julgar, senão o que vós quizerdes, e bem se sabe que é o que vós quereis; e deixando todas estas cousas, sómente digo que apéllo de vós para Rei direito e justiçoso, e que o mereça e deve ser, e ainda que para isto ahi não houvesse prova senão as obras que fazeis abastariam afóra outras cousas que tenho caladas para quando cumprir, assim que vossos éditos para mim não são de nenhum valor, nem força, e protesto que cousa que n'elles digaes, nem sentença que por elles contra mim se der, não me possa damnar nem empécer em nenhum tempo que seja.

Ora, Senhor, vos quero dar conta de mim e da causa que em minha sahida d'esse Reino e o porque sei que tanto desejastes, e trabalhastes de me ver á mão, o que principalmente foi, porque eu não contasse a verdade d'este feito, e de como mal e como não devieis matastes o Duque de Vizeu que Deus haja, e eu ouvindo a crueldade de sua morte e lembrando-me o mal que muito tempo me querieis e mui sem causa, e quanto agora me quereis pelo bem