DUAS IMPERATRIZES
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ratriz e, se as damas de serviço faltavam, elle proprio dava conta a sua magestade imperial do numero e qualidade das pessoas que solicitavam audiencia.

Bignet era um homem discreto, e muito dedicado á imperatriz; guardava sempre rigoroso silencio sobre as resoluções que a imperatriz lhe communicava, mas as damas da côrte tiravam pelos domingos os dias santos, e penetravam ás vezes os segredos de Bignet.

Por exemplo. A imperatriz não dispensava nunca do seu serviço de meza alguns objectos de estimação, entre os quaes havia uma pequena caixa de chá, de prata dourada, que tinha pertencido a Napoleão I. Quando este elegante objecto não apparecia alguma vez, as damas subentendiam que a imperatriz projectava uma viagem, e que mr. Bignet já tinha preparado as bagagens. Mas a caixa de chá reapparecia, e as damas ficavam sabendo que o projecto de viagem havia sido posto de parte. Bignet acompanhou a imperatriz ao exilio; e morreu em Inglaterra, inconsolavel pela queda do imperio.

Ao salão dos alabardeiros seguia-se a sala das damas, pintada a fresco sobre um fundo verde. O tecto representava uma enorme corbeille de flôres. A mobilia, estylo Luiz XVI, era de madeira dourada com estofos Gobelins. N'esta sala, como o seu nome indicava, estacionavam lendo, conversando, bordando, as damas de serviço.

Passava-se d'este a outro salão, côr de rosa, profusamente ornamentado de flôres: o tecto, represen-