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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

vingança na estatua do marquez de Montemór já que, por se ter refugiado em Castella, não podéra ceval-a no seu corpo; que o duque de Vizeu, cunhado do rei, fôra por elle proprio assassinado em Setubal. Agradecia á Providencia o ter-se encarnado na pessoa de João de Pegas para o salvar; senão, haver-lhe-ia acontecido o que acontecêra a D. Pedro de Athayde, que fugindo de Setubal para Santarem fôra preso no caminho, publicamente degolado e feito em quartos.

Os fidalgos castelhanos continuamente estavam avisando Fernão da Silveira das repetidas instancias que D. João II fazia junto dos reis catholicos para que lh'o entregassem. O conspirador teimava em não querer parecer fraco, deixava-se ficar, sempre intimamente sobresaltado e desconfiado.

Mas em 1488, como D. João II enviasse a Castella uma embaixada a pedir para o herdeiro da corôa a mão da filha primogenita dos reis catholicos, Fernão da Silveira, receiando que pelo facto do casamento se estreitassem, como era natural, as relações de amizade entre as duas côrtes, resolveu-se a fugir para França acompanhado pela manceba e pelo filho.

Não devia, porém, considerar-se muito seguro em França um conspirador representante da nobreza insurgida contra o poder absoluto dos reis.

Luiz XI, que tinha morrido poucos annos antes, em 1483, havia sido um inimigo implacavel dos poderosos senhores do seu reino, que formaram contra elle a celebre liga do Bem publico. Sabe o leitor que