Fernão da Silveira ia fallando de Portugal ao filho, gravando na sua memoria, a traços de fogo, o retrato odiento do tyranno.
Á volta de uma rua, encontraram-se a pequena distancia com um fidalgo catalão, cujo nome e situação Fernão da Silveira muito bem conhecia. Era, como elle, um conspirador, que andava foragido de Castella: o conde de Palhaes.
O catalão, em vez de se dispôr a saudar Fernão da Silveira, levou a mão direita ao peito, insinuando-a no gibão. E, ao passar junto de Fernão da Silveira, cravou-lhe rapidamente um punhal no coração.
Não teve o portuguez tempo para resistir; cahiu desamparado na rua.
Mas o pequeno Alvaro, vendo o pai morto, desatou em gritos dilacerantes, que despertaram as attenções, e chamaram gente.
O conde de Palhaes foi logo preso, conduzido ao carcere em nome do rei de França, que não era já Luiz XI, como sabemos, porque Luiz XI havia morrido seis annos antes.
A opinião publica alvorotára-se com este acontecimento, pela significação que realmente tinha. O braço do conde de Palhaes fôra manifestamente armado por D. João II, que ao catalão fizera mercê de muita somma de ouro, em que se primeiro concertou, como escreve Garcia de Rezende. Não podéra o rei de Portugal ser feliz nas negociações que para haver á mão Fernão da Silveira entabolára com os reis catholicos e com o rei de França. Ter-lhe-ia sido por