mim, e supplico a Nosso Senhor que tambem vos perdoe. O que vos rogo é que olheis por Maria, nossa filha, a qual vos recommendo; e vos peço que para com ella tenhaes cuidados de pai. Tambem vos recommendo as minhas tres criadas, e que as cazeis honradamente, e todos os outros criados, para que não padeçam privações; e além do que se lhes deve, desejo que se lhes entregue o salario inteiro de um anno. E, para concluir, senhor, certifico-vos e affirmo-vos que não ha coisa mortal que os meus olhos mais desejem do que vós.»
Boa e santa alma de mulher, que morre amando o seu verdugo!
No céo—e, se o ha, deve ser para os martyres que se volvem anjos—foi Catharina gozar a eterna felicidade: aquellas grinaldas, de que falla Shakspeare, e que ella esperava ser digna de gozar.
Porque, a proposito vem dizel-o, uma das tragedias de Shakspeare tem por assumpto e titulo Henrique VIII. Foi Izabel, a filha de Anna Boleyn, que lhe pediu que a escrevesse. Ora a obra do tragico inglez, a respeito de Henrique VIII, é um producto convencional, destinado á filha da rainha intrusa que depoz Catharina de Aragão.
Anna Boleyn tinha estado na côrte galante de França, fazendo parte da comitiva da princeza Maria, irmã de Henrique VIII, ultima esposa de Luiz XII, e saboreára ahi nas festas ruidosas do castello de Blois a vida alegre e frivola cuja effervescencia é capitosa. Quando a viuva de Luiz XII, que por amor d'ella se