HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES
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que, na balança do seu coração, o amor ao rei não pesava mais do que o amor ao dinheiro.

Assim foi que ella cobiçou a corda e as joias que pertenciam á rainha Catharina.

Ora a rainha Catharina podia, como a condessa de Chateaubriand, quando Francisco I lhe pediu todas as joias para as dar a Anna de Pisseleu, tel-as mandado derreter no fogo. Mas não fez assim, devolveu-as honradamente, com excepção da corôa, porque estava guardada da mão de lord Rutland, que não a quiz entregar emquanto a rainha Catharina foi viva.

Lord Rutland é o Martim de Freitas inglez.

Mas aquelle e outros golpes acabaram por dilacerar o coração atormentado da boa rainha Catharina, cujos padecimentos se aggravaram mortalmente.

No seu leito de agonia escreveu ao rei uma carta, que o abbade Millot com razão classifica de lettre touchante, mas que nós, graças á chronica hespanhola de Julian de Pliego, tão sabiamente annotada pelo marquez de Molins, podêmos reproduzir na integra:

«Senhor meu e rei meu e marido amantissimo:

«O profundo amor que vos tenho faz-me escrever-vos n'esta hora e agonia de morte, para admoestar-vos e lembrar-vos que tenhaes conta da saude eterna da vossa alma mais que de todas as coisas fallazes d'esta vida e de todos os regalos e deleites de vosso corpo, por cuja causa me haveis dado tantas penas e fadigas e vos haveis embrenhado n'um labyrintho e pélago de cuidados e angustias. Perdôo-vos de boa mente tudo o que tendes feito contra