de respeito, é sacrilégio dizer comprar ou vender santos. Aprendeu?
- Sim, sinhor. Obrigada, sinhor.
E o crioulo se foi, deixando o pobre armênio arrasado por mais aquele déspota que passava sobre a sua pobre raça; mas mesmo assim, continuou na sua mercancia.
Lá se foi ele por aquelas ruas de tão caprichoso nivelamento que permite as carroças que por lá se arriscam andarem no ar com burros e tudo. Lá ia ele:
- Cumpra, sinhor! Muita bonita.
Subia, descia ladeiras; parava nas portas; mas não fazia negócio algum.
Num pequeno campo, encontrou uma porção de crianças a empinar papagaios. Parou um pouco para ver aquele divertimento interessante que as crianças da sua terra não conheciam. Veio um pequenote:
- Ó Zê! O que é que você leva aí?
- Santo, menina. Pede mamãe compra uma.
- Ora, esta! Lá em casa tem tanto santo - para que mais um? Vende ali, aos "bíblias".
Miguel José percebeu bem a malícia da criança, pois de uma feita caíra na tolice de oferecer um registro a essa espécie de religiosos e se vira atrapalhado. Não que o tivessem maltratado, mas um deles, baixinho, com um pince-nez muito puro de vidros cristalinos, o levara para o interior da casa, lera-lhe uma porção de cousas de um livro e depois quisera que ele se ajoelhasse e abandonasse os registros. Noutra não cairia ele...
Continuou o caminho, mas estava cansado. Ansiava por uma sombra, onde repousasse um pouco. Havia muitas árvores, mas todas no interior das casas, nas chácaras, nos quintais ou nos jardins. Uma assim pública, na margem da rua, em terreno abandonado que o abrigasse aí, por uns dez minutos, ele não encontrava.
E seria tão bom descansar assim fazendo o seu minguado almoço, para continuar até à tarde a sua faina, vendo se ganhava pelo menos uns dez ou cinco tostões de comissão com a venda daquelas cousa