s sagradas.
E continuou o seu caminho, tendo sempre exposta diante do peito a imagem de Cristo, coroado de espinhos, a mostrar o coração muito rubro, com os seus misericordiosos olhos a procurar o Céu, naquela manhã muito linda, de um profundo azul-cobalto...
Afinal, achou uma mangueira, maltratada, cheia de ervas parasitas, a crescer na borda do cominho, num terreno desocupado. Sentou-se, tirou da algibeira um naco de pão dormido, uma cebola e pôs-se a comer, olhando as montanhas pedroucentas que assomavam ao longe e lhe faziam lembrar a terra natal. Ele não tinha nenhum nítido pensamento sobre a vida, a natureza e a sociedade...
Não tardou que se lhe viesse juntar um companheiro. Era tam- bém um "volante" como ele; mas a sua mercancia era outra, menos espiritual. Vendia sardinhas, de que trazia um cesto cheio. Era um português, cheio de saúde, de força, de audácia. Vinha suado, mais do que o armênio; entretanto, não dava mostras de ter ressentimentos nem do sol nem da dureza do seu ofício. O armênio olhou-o com inveja e pensou de si para si:
- Como é que esse homem pode ser alegre, pode ter esperanças?
O português, sem auxílio, arriou o grande cesto na sombra e sentou-se também cheio de confiança e desembaraço. Foi logo dizendo:
- Bons dias, patrício.
Miguel José fez uma voz sumida:
- Bom dia, sinhor.
O português, sem mais aquela, observou:
- Qual senhor! Qual nada! Cá entre nós, é você pra baixo. Isto de senhor é lá pros doutores, não é para nós que andamos aqui aos tombos.
E emendou comunicativo:
- Que diabo - ó patrício! - que tu comes pra aí?
O "turco" disse-lhe e o Manuel da Silva considerou:
- Lá na minha terra, há quem goste disto; mas eu nunca me acostumei. Cebola pra mim, só na comida. Numa bacalhoada, ah!...