O vosso olhar é como um livro aberto
Onde soletro as minhas alegrias...
Oásis santo num cruel deserto,
Negro e sem fim, de fundas agonias.

Em breve as férias chegarão, e eu triste
Quantas semanas vou passar distante
De vosso olhar onde a Candura existe,
De vosso riso claro e hilariante!

E para não ficar tão só, tão louca,
Presa da cisma ao doloroso enleio,
Dai-me as cantigas que levais na boca,
Dai-me as quimeras que guardais no seio!

Pois já suspiro pela aurora mansa
Que há de trazer com o sol do novo ano,
Para a voss’alma mais uma esperança,
Para a minh’alma mais um desengano.

Anjos da terra, flores animadas,
Aves do céu que a chilrear passais...
Como vos quero, evocações amadas
Do meu passado que não volta mais!

Ah, quem me dera os sonhos perfumados
D’aquele tempo de ideal fragrância...
Cantai! cantai! ó rouxinóis sagrados,
Lembrai-me os dias da primeira infância!