—Mas este nome é o meu! exclamou Pereira. Esta carta então é para mim...
—Hu, hu! gaguejou o alemão boquiaberto. É muito currioso isto!
—Sou eu, sou eu mesmo! continuou o mineiro abrindo os diques à volubilidade. Está claro, claríssimo!... Quando me escreveram, pensavam que eu ainda morava lá em Piumi. Pois, se nunca contei a ninguém em que buraqueira me vim meter... Abra a carta sem susto... Oh! Senhora Sant'Ana, que dia hoje! Quem diria? Uma carta! Uma carta nestas alturas! Pode ler, Sr. Maia... Estou doido por saber quem se deu ao trabalho de me escrever... Martinho dos Santos Pereira, de Piumi... sou eu! Que dúvida: não há dois. Veja só o nome... pelo amor de Deus, o nome de quem me direge a carta.
Rompeu o alemão com alguma dúvida e escrúpulo o selo; correndo com os olhos a lauda escrita, procurou a assinatura e pausadamente leu "Francisco dos Santos Pereira".
—Gentes! bradou o mineiro no auge da alegria, meu irmão... o Chiquinho!... E eu que o fazia morto e enterrado!... Nosso Senhor o conserve por muitos anos!... O Chiquinho!... Já se viu coisa ansim?... Como se anda neste mundo, hem, Sr. Cirino? Quem havéra de dizer que este homem, que aqui chegou ontem por acaso e alta noite, havia de trazer na canastra uma carta de um irmão que não vejo há mais de quarenta anos?!... Ora esta!... São voltas deste mundo... As pedras se encontram... Foi em 1819... não, em 20... Mas depressa... leia a carta.. Vamos ver o que me diz o Chiquinho... Da família passava por ser o de mais juízo; também era