indagou Garcia.

—Não tarda a vir vê-lo aí fora... Olhe, é um instantezinho.

Palavras tão cruéis não pareceram fazer mossa ao desgraçado.

— Esperá-lo-ei com toda a paciência, replicou melancólico.

—Já sei que volta hoje para casa, afirmou Pereira.

—Volto. Se a noite me pegar em caminho, ficarei no pouso das Perdizes.

—É verdade: lá há uma tapera. Mas o Sr. não tem medo de almas do outro mundo? Dizem que o tal rancho velho é mal-assombrado.

—Eu? exclamou o infeliz. Só tenho medo de mim mesmo. Quisesse um defunto vir gracejar um pouco comigo, e de agradecido lhe beijava os dedos roídos dos bichos. Olhe, Sr. Pereira, continuou com voz um tanto alta e agoniada, não levo a mal o senhor não me convidar para entrar em sua casa; não, no seu caso havia de fazer o mesmo.

Oh! Sr. Garcia! quis protestar Pereira.

—Nada;... digo-lhe isto do coração... Na minha família sempre tivemos nojo de lázaros... Sou o primeiro... O sr. nem imagina... Vivi muitos anos meio desconfiado... A ninguém contei o caso... De repente, arrebentou o mal fora. Já não era mais possível enganar nem a um cego... Ah! meu Deus, quanto tenho sofrido!...

—Permita Ele, interrompeu Pereira em tom compassivo, que este