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poesias allusivas ao assumpto—que o invento de Barthołomeu Lourenço não era mais que um sonho extravagante de sua desvairada imaginação. Homens, aliás illustrados poderiam assim pensar n'aquella época, e entender, por tanto, que as tentativas do voador não mereciam as honras de serem com seriedade descriptas e mencionadas. O descredito e ridiculo em que o padre Gusmão cahira, por causa da sua empreza de navegação do ar, eram taes que fallar da machina volante entre as producções do seu ingenho seria tomado por muitos não em louvor mas em vituperio. E' o que manifestamente se deprehende da seguinte censura que a um sermão que o padre Bartnolomeu Lourenço, prégou na festa do Corpo de Deus na igreja de S. Nicolau de Lisboa, fez o padre mestre fr. Manuel Guilherme, da ordem dos prégadores. presentado na sagrada theologia, consultor do santo officio e examinador das tres ordens militares. N'esta censura que com o sermão foi impresssa em 1721 lê-se o seguinte :


Sou de parecer que n'este mesmo papel, mais que nos outros do mesmo auctor já impressos, desempenhou elle e satisfez a nossa expectação da sua rara e quasi incrivel habilidade ; porque n'este subiu mais que em todos, e com tão firmes elevações, que entendo se lhe devem. mais applausos que sustos, mais admirações que duvidas.


Mostra-nos tambem qual era a opinião desfavoravel que o vulgo formava do auctor da machina volante um trecho do escripto que precede o tom. 4.° do Theatro de Manuel de Figueiredo com esta epigraphe : Ao publico presente e ao publico futuro offerece a seguinte memoria Francisco Coelho de Eigueiredo. A obra imprimiu-se em Lisboa no anno de 1804.


...e porque é natural que não poderei vêr impresso, apezar dos meus bons desejos, todo aquelle theatro, em razão da minha edade, tomo a cautella de avisar os