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Vejo huns homens empregados,
Grosseiros, sem criação;
Vejo discretos, e honrados,
Da fortuna desprezados,
Sem terem nem para hum pão.
Moinho não móe sem vento,
Não corre fonte sem agoa,
E não ter para o sustento
He flagello tão violento,
Que acaba a gente de mágoa.
Muitos homens abastados
Dos pobres não se enternecem,
Em disfrutar engolfados,
Nunca se fazem lembrados
Das fomes, que os mais padecem.
O rico, que os bens semêa
Pelo infeliz, pelo nobre,
Nisto honra, e fama grangêa,
Valendo á desgraça alhêa,
He quando fica mais nobre.
Quando os homens de algum dia
No bem geral se empenhavão,
União, e paz havia,
Com mais gosto se vivia,
Que huns aos outros se ajudavão.