Era difícil obedecer. Parte dele estava já em jantares, charutos, paletós, empréstimos, pagamento de dívidas. Demais, José Cândido não cederia nunca. Disse-lhe que o dinheiro tinha seguido o seu destino.

O sr. Mateus sentiu alguma coisa semelhante a um tiro na boca do estômago. Caiu numa cadeira, bufou, espumou, declarou a José Cândido, que saísse e nunca mais lhe pusesse os pés em casa. José Cândido não fez grande esforço para ficar; aceitou a solução e saiu.

— Nunca mais! bradou o pai. Ouviste? nunca mais!

E vendo-o sair sem dizer palavra, sem tentar abrandá-lo, sem um remorso aparente, o sr. Mateus sentiu uma comoção superior à da perda dos quatro contos. A paternidade falou mais alto que o dinheiro.

Meia hora depois voltou à loja com os olhos vermelhos.

Tinha chorado.

José Cândido não chorou; saiu teso, até risonho, com os olhos na estrela eleitoral, certo de que o pai lhe abriria a porta e os braços no dia em que o visse aparecer triunfante. Foi dali ao barbeiro, contou-lhe o caso e as esperanças, que não perdera de abrandar a cólera do pai, quando fosse eleito. O barbeiro, dentro em si, reprovou o incidente; mas a esperança de um triunfo à custa do dinheiro de José Cândido, fê-lo calar todos os escrúpulos. Ele aprovou de boca o procedimento de José Cândido, que achou digno sem ser desrespeitoso. Esta opinião, que o envergonhava, foi dita ao mesmo tempo que ele afinava a rabeca; meio de se não ouvir a si próprio.

A notícia da expulsão de José Cândido caiu como uma bomba em casa da sra. Inácia. Esta deu um salto ao xale e precipitou-se para casa do primo, a saber do que havia, enquanto Emília, a namorada de José Cândido, se desfazia em lágrimas amargas.

No meio das lágrimas apareceu-lhe José Cândido.

— Será verdade? perguntou a moça.

— O quê?

— Que você foi posto fora de casa.

José Cândido ergueu os ombros. Emília soltou um dilúvio de novas lágrimas.

— Mas por que chora você? perguntou José Cândido exasperado.

— Por quê? perguntou a moça indignada.

— Sim, por quê?

Emília disse que ele era um ingrato, e intimou-o a reconciliar-se com o pai; insinuou-lhe mesmo que o fato da expulsão podia demorar ou tornar impossível a aliança conjugal que os dois ambicionavam. Sou