A apuração começou. O presidente lia os nomes dos eleitos, que dois mesários escreviam. Esta leitura monótona era um dos maiores prazeres que José Cândido conhecia na terra; naquela ocasião era o prazer máximo; devia sê-lo ao menos.

As primeiras listas não continham o nome de José Cândido e muito menos o do barbeiro. Este, candidato novel, lançava ao filho do sr. Mateus olhos de angústia e desesperação; mas José Cândido tranqüilizava-o, dizendo-lhe ao ouvido que as primeiras listas não decidem uma eleição.

— Sim, confirmava o barbeiro; o primeiro milho é dos pintos.

Só no outro dia acabou a apuração. Seu resultado, na parte que nos interessa, foi o seguinte:

José Cândido........... 37 votos

O barbeiro ............ 15 votos

Uma ilusão engendra ordinariamente outra. José Cândido escondeu-se de todos, oito dias, persuadido que acabava de obter a celebridade da derrota. No fim esse tempo apareceu; mas andava com os olhos baixos. O primeiro desconhecido que lhe pedia fogo parecia estar dizendo:

— Coitado! Deve ter padecido muito.

Alguns, os conhecidos, falavam da eleição, mas com entusiasmo sincero, porque lhes parecia que o voto de trinta e sete pessoas era um sonho realizado para José Cândido. Este ouvia esses aplausos com um grande desespero na alma, porque era preciso ser muito inferior para achar alguma coisa significativa em 37 votos.

Contudo, esses dois algarismos, com o tempo, tornaram-se menos ínfimos aos olhos de José Cândido. Eram ínfimos, durante a convalescença da derrota; mas os dias passam, o desgosto amortece, a ambição perde as penas, e os 37 votos ficaram sendo um título, uma recordação, uma espécie de aurora eleitoral. José Cândido, que até então não quisera mais pôr os olhos no fatal número, foi ele próprio comprar alguns exemplares das folhas que haviam publicado a apuração. Leu o seu nome; fez-lhe bem a vista desses votos, mais cinco do que os obtidos por um médico, mais sete do que os votos dados a um desembargador; enfim, um proprietário da vizinhança figurava apenas com um voto, lembrança lisonjeira de um inquilino atrasado nos aluguéis.

Um ano depois deste acontecimento, as coisas tinham mudado. O sr. Mateus falecera. José Cândido, que deixara pai, noiva, afeições de família, interesses domésticos, por uma candidatura mais do que problemática, reconciliara-se com o autor de seus dias, de quem herdou as casas e a loja. A sra. Inácia não gastou muito latim para realizar o casamento