JORNAL DAS FAMILIAS
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de duvida mortificante e doloroso, peor cem vezes que a desgraça. Perdoai meu passo se é errado: mas eu vos adoro tanto.

A vez primeira que vos vi, e ao contemplar vos exultei como que com nova vida, e meu pobre coração sem amores e sem felicidade, disse-me no fundo do peito» se ella correspondesse aos teus desejos... Depois tenho constantemente visto vosso belo rosto, já com essa aureola da belleza, já com essa melancolia tão doce quando vos contemplo pensativa á janella de vosso domicilio.

Em que pensaes então Senhora? O vosso coração acaso suspira solitario, ou alguma grande dôr n’elle encerraes?

Jovem como sou, amando pela primeira vez, meu coração está isento de engános e de inconstancia.

Eu só quero amar, a quem me pague amar com amor, paixão com ternura.

Dentro de meu peito ha uma paixão nobre, que não se occulta, tão digna de nossa benignidade, quanto ella se manifesta a vós, a quem eu idolatro e prezo como um anjo.

A incerteza... eis o meu estado presente.

Com uma palavra podeis tirar-me d’este estado, fazer-me feliz ou desgraçado, mas antes de proferil-a meditaes bem que ides decidir de minha sorte.

Sim? ou não? Respondei

B...

Um sentimento de satisfação se reflectio sobre a bella physionomia de Palmyra.

Um estremecimento percorreu-lhe os membros, seu coração batia com violencia.

— Palmyrinha, disse Nóla dando-lhe um beijo, que respondes a essa carta.

— Eu?... Mandarei dizer-lhe, que procure frequentar nossa casa...

— Só?...

— Que mais hei de dizer-lhe que elle já não saiba. Por acaso o amor pode esconder-se no fundo do peito. Ai Nóla minha querida amiga, eu me sinto irresistivelmente empellida para esse moço que só agora me escreve. Eu o amo com todas as forças de minha alma.

Não cabe aqui relatar a conversação que se seguio a estas palavras entre as duas moças.

Apezar da galanteria superficial, e da liberdade que reinava nas suas relações, uma só idéa, uma só palavra não veio marear esse colloquio.