N’aquelle rosto já decomposto podia-se ver as phases do que lhe ia n’alma.
Juntou elle as mãos tendo a da moça entre ellas, e beijou-a.
— Posso agora morrer, disse elle.
Suas mãos crispadas pelas ligeiras convulsões da agonia apertavam a mão da moça.
Por mais tocante que fosse essa scena, Palmyra conservava-se muda, consternada e seguia com o olhar fixo e devorante os progressos da agonia do seu pobre amante.
Quando um tremor convulso agitou os labios do doente, o doutor disse á moça.
— Minha senhora, tenha coragem, deixe-me agora recolher o ultimo suspiro d’este nobre moço.
Por unica resposta Palmyra debruçou-se sobre o leito e collou seus labios aos labios do moço.
Pelo rosto do morimbundo passou um lampejo de alegria. Seus embaciados olhos tornaram-se limpidos, e elle murmurou surdamente: Morro por ti!...
Depois que Palmyra fora levada para um canto do quarto e nos braços de sua mãe jazia desfallecida, um como que sorriso pairava nos labios do cadaver.
A immortalidade começára para elle.
Quando Palmyra recuperou os sentidos e que sua mãe tentou afastal-a da camara mortuaria, já então envadida por alguns amigos do morto, ella lançou para aquelle leito um derradeiro olhar tão repassado de angustia que dir-se-hia, houvera enlouquecido.
Depois, sem verter uma lagrima sem um gemido, apoiou-se no braço da mãe e sahio silenciosa.
Chegando á casa, sua desesperação apenas se manifestava, por movimentos convulsivos, e lagrimas que lhe banhavam as faces assetinadas.
Violenta febre a devorava.
No dia seguinte em um dos cemiterios d’esta corte, n’esse campo de repouso termo final das vicissitudes da vida, onde apesar da vã pompa dos monumentos funebres reina a igualdade a mais perfeita, e a mais imponente; diante dos restos inanimados de um moço e de uma sepultura aberta e muda, alguns companheiros soluçando prestaram ao finado a